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O que significa Gameplay e Jogabilidade (Playability)?

Pera aí Rafael, não é a mesma coisa?
Na verdade, existem vários estudos sobre este assunto e ainda não se chegou em uma definição concreta, sem brincadeira. Isso quer dizer que cada um pode interpretar o significado destas palavras do jeito que achar melhor.
Mas a fim de estabelecer uma opinião conjunta, seria interessante começarmos a pensar da mesma forma, estipular um significado. Para isso, claro, precisamos ter uma base sólida em nossas afirmações.
Não estou dizendo que a classificação a seguir é a melhor, mas, acredito que seja interessante a levarmos em consideração. Compartilho em partes com a ideia de Sato e Cardoso¹, Aguiar e Battaiola², e Rouse III³. A partir deles pude formar a ideia de que:

  • Gameplay: resume-se ao jogo em si. Explicando melhor, são todas as partes do jogo (gráficos, programação, música, animação, enredo, etc.) interagindo entre si e todas as partes do jogo interagindo com o jogador. A palavra que fica em destaque aqui é a interação (Rouse III, 2001), pois sem ela o jogo simplesmente não acontece. Afinal, o que diferencia os videogames de outros tipos de arte é justamente a interação direta com eles.
  • Jogabilidade (Playability): primeiro, playability nada mais é do que a tradução, para o inglês, de jogabilidade. Bom, esse resulta do gameplay, pois jogabilidade é a habilidade física (coordenação motora, reflexos...) e mental (interpretação, raciocínio rápido e lógico, etc.) que o jogador possui para jogar o jogo. Isso só é possível através da interação do jogador com o game (gameplay).

E já que o assunto abre espaço para tal:

  • Experiência de Jogo: é algo subjetivo originada da jogabilidade do jogador, pois ela surge pela forma com que o mesmo interage com o jogo. Por exemplo: se o jogador não consegue lidar com alguma mecânica de um jogo e ele não tiver capacidade para aprender como resolver a situação, provavelmente terá uma experiência de jogo ruim. Porém, se o mesmo tiver essa capacidade (que pode ser apenas questão de paciência, por exemplo), talvez ele tenha uma experiência ruim no começo, mas depois que superar sua dificuldade passará a ter uma experiência de jogo boa. Por isso é algo subjetivo ao jogador, pois é resultado da forma com que ele lida com o game. Inclusive, esse item fez parte do tema do meu artigo científico mais recente: "Game Design e Experiência em Jogos Digitais: Análise do Jogo 'Mineirinho Ultra Adventures'”, no qual foi feita análise (junto com meu orientador, Fabiano N. de Oliveira) sobre como a Experiência do Jogo influencia na avaliação do jogador sobre o mesmo.

É possível que você se pergunte: "Mas então porque os youtubers 'gamers' sempre colocam a palavra 'gameplay' em seus vídeos?". Isso porque o termo jogabilidade ficaria muito estranho nesse caso, não somente pela palavra em si, como também porque a jogabilidade demonstrada no vídeo é somente a do youtuber enquanto a do espectador provavelmente é bem diferente. É por isso que alguns 'gamers' colocam "let's play" ao invés de gameplay, provavelmente pois já viram em algum lugar que essa palavra não significa aquilo que eles estão propondo. Mas, apesar disso, como é um termo que ainda não está regrado e já vem sendo utilizado em vídeos por vários anos, particularmente não vejo problema em utilizá-lo nesse sentido também, até porque se o intuito do vídeo for de fato mostrar o gameplay do jogo e não a jogatina do youtuber, então o termo está sendo usado corretamente.


Referências:

[1] SATO, Adriana Kei Ohashi; CARDOSO, Marcos Vinicius. Além do gênero: uma possibilidade para a classificação de jogos. Sbc: Proceedings of SBGames, Belo Horizonte, p.54-63, 10-12 nov. 2008. Anual. VII SBGames. Disponível em: <http://www.sbgames.org/papers/sbgames08/ad/papers/p08.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2018.

[2] AGUIAR, Michelle; BATTAIOLA, André Luiz. Gameplay: uma definição consensual à luz da literatura. Sbc: Proceedings of SBGames 2016, São Paulo, p.531-538, 8-10 set. 2016. Anual. XV SBGames. Disponível em: <http://www.sbgames.org/sbgames2016/downloads/anais/157561.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2018.

[3] ROUSE III, Richard. Game Design Theory & Practice. Los Rios Boulevard (USA): Wordware Publishing, 2001. 584 p.

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